A lei de César
Só uma Lei existe,
Que é justa e vem do céu,
Que nunca foi escrita
Em sórdido papel
Nem envelhecerá.
César, porém, chegou
E aos pávidos mortais
Disse ameaçador:
- "Eu sou o vosso Rei
E vós sois os meus súditos,
Ai de quem recusar
Meu jugo, minha lei!"
E o hálito de César
Soprou como um tufão
Sobre a face da terra.
Sua cabeça esfíngica
Avolumou-se aos poucos,
Pois ela engravidara
De soberba e ambição,
E foi parindo monstros,
Que o mundo avassalaram,
Monstros cruéis, sedentos
Do sangue e da pecúnia
Dos malfadados súditos.
Ai! nesse dia infausto
Consumou-se o holocausto:
A triste humana grei
Perdeu a liberdade,
Ficou escrava da lei.
- "O que é o homem, afinal?"
Perguntou-me alguém, um dia.
Respondi-lhe com ironia:
- "Um ser livre e racional,
Numa ilha confinado,
Ilha cercada de leis
Por todos, todos os lados."
Domingos Pascoal Cegalla
Rio, 16/10/86