Máquinas paradas

 
Então, fui conduzido, em sonho, pelo Anjo,
ao mais alto pico da Terra.
Embaixo, fervilhava a humanidade,
entregue às suas lutas e vaidades.
 
- Esses brinquedos - disse-me o Anjo -
das mãos dos homens oriundos,
não são infalíveis não,
faço-os parar em segundos.
E, a um gesto dele, pararam
todas as máquinas do mundo:
as que sulcam os mares,
as que riscam os céus
e as que rastejam na terra;
engenhos de toda sorte,
os que promovem a vida
e os que vomitam a morte.
 
E com as máquinas paradas,
parados ficaram os homens,
que se sentiram desamparados,
pequeninos, impotentes,
ante seus inventos paralisados.
 
Mas em vez de amaldiçoarem,
eles abençoaram a sua desdita,
pois somente quando se pára
é que melhor se pensa e se medita.
 
Então os homens se despiram
de sua estólida arrogância,
de sua ambição e belicosidade,
de seu delírio de velocidade.
 
Diante de seus deuses inertes e frios,
eis que a vista alçaram para o céu profundo:
seus olhos desiludidos,
cansados de coisas banais,
buscavam no azul coisas perenes,
verdades transcendentais.
 
Domingos Paschoal Cegalla
Rio, 09/10/85

Tópico: Máquinas paradas

Nenhum comentário encontrado.

Novo comentário