Nos intervalos da refrega

 
Nos intervalos da peleja,
Enquanto o inimigo não ataca,
Contemplaremos a paisagem violada
E as rubras águas que passam,
Feridas, em convulsões,
Os destroços carregando
De nossas vãs esperanças
Para o oceano das desilusões.
 
Na curta trégua que o inimigo nos concede,
Forjaremos novas armas, novos planos,
Não ficaremos inertes.
Sobretudo, estaremos vigilantes,
Que o inimigo é forte e solerte
E a trégua é de poucos instantes.
 
Sim, estaremos alerta,
Mesmo enquanto contemplamos
As águas tintas de nosso sangue
Levando suores, lanças quebradas
- Ruínas de nossos esforços -
Para o báratro do nada,
 
Porque o inimigo é imprevisível
E, para nos destruir,
Tem muito bem abastecido
Seu arsenal de insídias,
Recorre a infinita artes
E (ah, realidade atroz!)
Tanto pode nos atacar de fora
Como dentro do nosso baluarte.
 
Correi, águas turbilhonantes,
Rolando os ecos cristalizados
Da penúltima peleja,
E aos que encontrardes no caminho
Dizei que estamos preparados
Para a batalha derradeira.
 
Domingos Paschoal Cegalla
Rio, 18/08/86

Tópico: Nos intervalos da refrega

Nenhum comentário encontrado.

Novo comentário