Noite de abril de 1986 em Araruama
Ouço a lagoa que chora.
Seu rosto, há pouco, sereno,
Tem, sob o luar, agora,
Um triste aspecto impreciso:
Halley passou, foi embora
Sem lhe fazer um aceno
Nem lhe esboçar um sorriso.
Bem diferente anda a Lua,
Bela pastora da noite.
Vaidosa do longo idílio
Com esse eterno andarilho,
Não vela nem atenua
Seu êxtase e continua
A apascentar seu rebanho
De plácidos carneirinhos,
Lá nas campinas do céu,
Brancos, brancos como arminhos.
Reclinada junto ao mar,
Que amorosamente a enlaça,
Ouço a lagoa chorar,
Inconsolável e lassa.
E enquanto a lagoa chora
Seu amor incompreendido,
Halley se afunda no cosmo,
(A cabeleira nitente),
Sem dar ar de sua graça.
Mas será que ele foge
Ou é nossa vida que passa?
Domingos Paschoal Cegalla
Araruama, 22/04/86