Epopéia rural

 
Meus pais não colhiam o pão
em supermercados grã-finos,
num gesto fácil de quem colhe uma flor
ou apanha uma fruta do chão.
Arrancavam-no da terra
com suas mãos rudes e fortes,
banhadas de suor.
 
Era com doloroso esforço,
um esforço sem brlho,
que meus pais arrancavam da terra o pão
para a mesa dos filhos.
 
Suas mãos calejadas faziam aquele gesto largo,
abençoado por todos os famintos do mundo,
e as sementes iam caindo no ventre da terra lavrada,
iam caindo profusamente, em larga extensão...
 
Depois a Chuva e o Sol vinham de mansinho
despertar as sementes sonolentas
para o milagre da germinação...
 
Vencida a batalha final
contra o nefando préstito de calamidades
que invadia as plantações,
o chiado dos carros de boi
conduzindo os frutos para a paz dos celeiros
era o glorioso epílogo
da epopéia rural.
 
Eles não colhiam o pão
como quem colhe uma flor;
arrancavam-no do chão,
lavados de suor.
 
Domingos Paschoal Cegalla
Rio, 13/09/86

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