Poeta de vanguarda

 
Ele se dizia,
com fátua vaidade,
poeta de vanguarda,
a estrela que surgira
para a agonia dos astros.
Gente nova
idéias novas
tempos novos
formas novas.
 
Atirava-me remoques
quando eu o advertia:
"Não busques das frutas
a luzente casca,
mas a polpa suculenta.
Penetra a essência das coisas,
não te apegues às aparências."
 
Porém, rolaram as águas do tempo,
polindo os seixos dos rios,
mudando a mente dos homens,
punindo seus desvarios.
 
Hoje, coitado! ele é poeta de vã guarda:
no cemitério dos sistemas,
vela, consternado, o sono eterno
de seus pseudopoemas.
 
Domingos Paschoal Cegalla
Rio, 13/02/87
 

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