Última viagem

 
A minha vida anoitece,
Eu vou-me embora, Maria.
Nada aqui já me apetece,
Este mundo me asfixia.
 
Olha o barco à minha espera,
Não posso me demorar.
Esta vida é uma quimera,
Estrela imersa no mar.
 
Das flores que ambos colhemos
Em recôndido jardim
Nada mais resta, choremos
Nossa saudade sem fim.
 
Nos meus olhos transparecem
As invisíveis paragens,
Onde as flores não fenecem
Nem brilham falsas miragens.
 
Homens brutais expungiram
O arco-íris nos céus,
Negros pássaros surgiram,
Estendendo rubros véus.
 
Por isso, meu Bem, me apraz
Ir para o Reino Prometido.
O povo lá é de paz,
Rema no mesmo sentido.
 
Quando sentires saudade
Do teu companheiro ausente,
De quanto ficou atrás,
Alça teus olhos ao céu:
Na estrela mais refulgente
Decerto me encontrarás.
 
Domingos Paschoal Cegalla
Rio, 29/10/85 

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