Rua Embaixador Graça Aranha

 
"Salve, cheia de graça!" exclamo, ao vê-la,
E vou subindo a nobre rua amiga.
No seu leito de paralelepípedos
Meus passos matinais ressoam claros
Como um eco de límpida cantiga.
 
Enquanto galgo a rua ladeirenta,
Que cinge morros e ladeia vales,
Abro-me todo à luz, ao ar, à vida,
Deixo que a brisa enxote para longe
A indesejável horda de meus males.
 
Avanço pela rua aristocrática
- Longa fita cinzenta e sinuosa -
Absorto na beleza da paisagem,
Liberto do tumulto da cidade,
Que embaixo se ergue e estende pressurosa.
 
Nas encostas, aprumam-se, soberbas,
Ricas mansões, onde ancorou a paz.
A meus pés, fica a efervescente urbe,
Ao longe, rente ao céu, o mar indômito,
Ilhas e rochas abraçando, audaz.
 
À medida que subo, o panorama
Se amplia, torna-se mais leve o ar,
Mais branda a luz, mais profundo o silêncio.
Em toda parte há sombras me esperando.
Sinto que a vida vai continuar...
 
Rua alterosa, minha confidente,
És um convite bom para ascensões.
Também na vida há curvas imprevistas,
Há precipícios e ladeiras íngremes.
Ensinas-me a subir, a subir sempre,
Sem desalentos nem vacilações.
 
Domingos Paschoal Cegalla
Rio, 17/10/85

Tópico: Rua Embaixador Graça Aranha

Nenhum comentário encontrado.

Novo comentário