Miserere
Manhã de março. O céu, em pranto,
verte lágrimas, grossas lágrimas
de amargor e de tristeza
sobre o mundo impenitente,
entregue à sua truculência.
As quaresmeiras dos morros,
paramentadas de roxo,
como frades barbadinhos,
estão pregando penitência.
Do púlpito das encostas
condenam com veemência
os delitos, os pecados
dos homens frios e insensatos,
que pisam a Lei eterna
e obedecem à lei da selva,
numa feroz concorrência.
Ouço o lamento da chuva,
a que se junta e mistura
o sermão das quaresmeiras
conclamando os pecadores
a fazerem penitência
e a suplicar ao Senhor
misericórdia e clemência.
Miserere nobis, Domine.
Domingos Paschoal Cegalla
Rio, 10/03/86